
Atualizado às 17h32 de 9/6/2025
Ontem (8) fez uma semana que o veleiro Madleen, do movimento internacional Freedom Flotilla Coaliton – FFC (Flotilha da Liberdade), saiu de Catânia, na Sicília (Itália), com 12 ativistas a bordo – entre eles o brasileiro Thiago Ávila, a sueca Greta Thunberg, o ator irlandês Liam Cunningham e o repórter mexicano Omar Faiad, da AlJazeera –, em direção à Faixa de Gaza para levar ajuda humanitária para os palestinos (contamos aqui).
Fundada em 2010, a Flotilha é um movimento de solidariedade com os palestinos, com dimensão humanitária e de reação politica contra o bloqueio de Gaza.
O objetivo desta missão era estabelecer um canal de o para transporte de alimentos e medicamentos à Gaza – com uma ajuda simbólica (sucos, leite, arroz, conservas, barras de proteína oferecidos por centenas de cidadãos de Catânia) – e romper o bloqueio ilegal de Israel para abrir um corredor marítimo até o território palestino.
Na bagagem do Madleen ainda seguiam próteses, medicamentos e, também, cartas de crianças de diversos países para as crianças palestinas. Todo o material foi acondicionado em barris para driblar possível ataque de Israel (os ativistas jogariam os barris no mar, na esperança de que alguns deles chegariam aos palestinos).
No entanto, a missão foi interrompida pelo exército israelense, na madrugada desta segunda-feira, no horário local, e na noite de domingo, no horário de Brasília.

foram acondicionados em um barril para facilitar o transporte e, também, garantir
que chegassem ao destino. Infelizmente, Israel os confiscou os desenhos e,
certamente, dará outro destino a eles
Foto: reprodução de vídeo
Violação do direito marítimo internacional
Cinco barcos cercaram o veleiro, o rádio teve sua transmissão interrompida, ando a emitir ruídos irritantes, drones armados com gás de origem desconhecida – que irrita as mucosas (olhos, nariz e boca) – foram enviados e, em seguida, soldados israelensesarmados renderam os ativistas, obrigando-os a jogar celulares e computadores ao mar para impedir a documentação da ação militar.
A ação ocorreu em águas internacionais, configurando-se numa possível violação do direito marítimo internacional.
Os últimos registros dos ativistas no barco (acima e abaixo) foram feitos por uma câmera interna de segurança e divulgado pela Freedom Flotilla Coalition nas redes sociais, espalhando-se rapidamente.

A imagem foi registrada por câmera de segurança interna do Madleen
Foto: Freedom Flotilla Coalition / divulgação
Os pedidos ao presidente Lula e ao Itamaraty para que se manifestassem em defesa de Thiago e de seus companheiros inundou a internet, inclusive com a sugestão de um texto-base que poderia ser enviado também ao Reino Unido (a bandeira hasteada no Madleen é britânica, o que significa que o barco era uma extensão de seu território no mar) para solicitar a soltura dos ativistas.
“Iate de celebridades”
Horas antes do sequestro do veleiro e de seus ocupantes, o ministro de Defesa de Israel, Israel Katz, declarou, em nota nas redes sociais, que havia instruído o exército a proibir que a embarcação chegasse a Gaza.
Chamou o barco de “iate dos selfies” (ora, mas seus soldados é que são experts em selfies em cenários de escombros, em Gaza) e “iate de celebridades”, disse que o barco levava armas para o Hamas e que seria interceptado e seus tripulantes deportados para seus países de origem.
Um dos princípios da Flotilha da Liberdade é a não-violência, portanto, a acusação de Katz é completamente descabida, seguindo a estratégia de espalhar mentiras para depreciar “o inimigo”. Cai nessas mentiras quem quer. O que não faltam são informações verídicas a cerca das atrocidades cometidas por Israel contra palestinos, desde 1948.
Israel confirmou a interceptação do veleiro, mas não especificou o local onde o navio foi atacado. Segundo o Ministério da Defesa, a embarcação foi desviada para o porto de Ahsdod, que fica a cerca de 40 quilômetros ao sul de Tel Aviv, ao sul de Israel e não muito distante de Gaza.
“Espera-se que os ageiros regressem aos seus países”, declarou o ministério em comunicado, divulgando ainda imagens que mostram comida e água que foram distribuídas aos ageiros do barco, visivelmente equipados com coletes salva-vidas (desde as primeiras ameaças do exército israelense).
Sabe-se, ainda, que Katz ordenou que os 12 ativistas da Flotilha assistissem a imagens da invasão do Hamas em Israel, em 7 de outubro de 2023. Como se elas pudessem justificar o genocídio e a fome impostos pelo governo que ele representa ao povo palestino.
Assim que o exército israelense interceptou o veleiro, a Freedom Flotilla Coalition começou a publicar, em suas redes sociais, os vídeos que os 12 ativistas que participam da missão haviam gravado antes de embarcar para que fossem divulgados caso fossem presos por Israel. Infelizmente, foi necessário publicá-los para avisar ao mundo que eles corriam perigo (assista aos vídeos de Thiago e de Greta no final deste post).

Representante da Flotilha no Brasil é bloqueada pela Meta
Em entrevista ao site Opera Mundi, Luciana Palhares, representante brasileira da Freedom Flotilla Coalition, contou que foi bloqueada pela Meta no Whatsapp (ela mantinha contato constante com Thiago) assim que os ativistas foram detidos.
A assesora diz, ainda, que recebeu uma mensagem da Meta alegando que o bloqueio teria sido imposto devido a uma denúncia sobre “envio de spam”. Muito estranha tal alegação visto que Luciana ou os últimos cinco dias enviando mensagens constantes para diferentes meios de comunicação, sem ser punida pela plataforma.
“Foi uma medida que me surpreendeu porque aconteceu num momento em que a detenção tinha acabado de ocorrer e eu precisava difundir essas informações, mas a comunicação voltaram pouco depois das 10h”, declarou.
Governo brasileiro se manifesta
Hoje (5), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil publicou nota para pedir que Israel liberte os ativistas detidos “imediatamente” e o fim do bloqueio humanitário em Gaza.
“Ao recordar o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais, o Brasil insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos”, destaca o comunicado, que também reforça “a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino, de acordo com suas obrigações como potência ocupante”.
“O governo brasileiro acompanha com atenção a interceptação, pela marinha israelense, da embarcação Madleen, que se dirigia à costa palestina para levar itens básicos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e cuja tripulação, composta por 12 ativistas, inclui o cidadão brasileiro Thiago Ávila”, completa a nota.
De acordo o Itamaraty, as embaixadas da região estão sob alerta para prestar a assistência consular à Thiago e os demais ativistas caso necessário, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e os direitos internacionais.
Irã e Turquia condenam prisão de ativistas
Segundo a RTP (empresa pública portuguesa), “o Irã foi um dos primeiros países a condenar a interceptação do navio, descrevendo-a como um ato de pirataria. Já a Turquia criticou o que chamou de ataque odioso, que considerou uma ‘violação flagrante do direito internacional'”.
A França declarou apenas que quer “facilitar” o “rápido regresso” dos seis cidadãos que compõem o grupo de ativistas (representam metade do grupo) e estavam a bordo da embarcação” no momento da interceptação israelense.
Quase 24 horas sem notícias
Pouco tempo depois da detenção dos ativistas da Flotilha, a esposa de Thiago, Lara Souza, publicou post no perfil dele para se apresentar e pedir apoio para que seus seguidores cobrassem ações de parlamentares, do governo e do Itamaraty para que Thiago e os demais integrantes da missão fossem soltos e pudessem voltar para seus familiares.
Daqui a pouco fazem quase 24 horas sem notícias dos 12 ativistas…
A seguir, assista aos vídeos de alerta gravados por Thiago Ávila e Greta Thunberg:
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Com informações dos ativistas do Madleen e da Flotilha da Liberdade
Foto: Freedom Flotilla Coalition / divulgação