
Por si só esse tipo de negócio já é inaceitável. No Japão, sobretudo em Kyoto, existem estabelecimentos que permitem a interação de seus clientes com animais. Não estamos falando de zoológicos ou aquários, e nem de brincar com um cão ou um gato. Os chamados “cafés com animais exóticos” são lugares onde os consumidores podem comprar uma bebida ou comida e aproveitar para acariciar e alimentar espécies selvagens, como lontras, por exemplo. E lógico, fazer aquela famosa selfie para postar nas redes sociais.
Organizações internacionais de proteção ambiental, como a Proteção Animal Mundial, já tinham denunciado esses cafés, questionando a origem desses animais, especialmente as lontras, se seriam realmente oriundas de criação em cativeiro (assista ao vídeo mais abaixo).
Agora, um novo estudo recém-publicado, revela que o DNA de 81 lontras de zoológicos e cafés de animais ou apreendidas pela alfândega está associado com populações selvagens dessas espécies na Malásia, Singapura e Tailândia. Segundo a análise dos pesquisadores, a maioria esmagadora dos testes genéticos desses animais os ligava a dois pontos críticos de caça ilegal nesses três países.
“O comércio internacional da lontra-anã asiática (Aonyx cinereus) para fins comerciais é proibido pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), Apêndice I. No entanto, o contrabando de lontras ainda é desenfreado, e o Japão está entre os principais países de destino de lontras em cativeiro, cujas origens são ambíguas”, alertam os autores do estudo.
A lontra-anã-asiática, também chamada de lontra-indiana, é a menor dentre todas as espécies de lontras do mundo, com cerca de 90 centímetros de comprimento, vive em habitats ribeirinhos, pântanos de água doce e manguezais. Assim como outras espécies desses mamíferos terrestres-aquáticos, desapareceu de muitos lugares por causa da caça à sua pele. No Nepal, por exemplo, foi considerada extinta, até ser avistada recentemente depois de quase dois séculos.

nesses cafés, am a maior parte do tempo sozinhas, e mostram sinais de estresse
Foto: Aaron Gekoski / divulgação Proteção Animal Mundial
Ainda de acordo com o estudo que acaba de ser divulgado, os registros da CITES apontam a lontra-anã-asiática não é importada da Tailândia para o Japão desde 1988. “Nossos resultados sugerem que a maioria (75%) das lontras apreendidas e em cativeiro em nesses cafés originou-se do sul da Tailândia, provavelmente por meio de comércio ilegal após essa data. Expandir o banco de dados de amostras de lontras em cativeiro no Japão e de lontras selvagens em seus habitats originais pode ajudar a esclarecer as rotas de comércio desses animais para o país”, ressaltam.

com animais em um café de Kyoto
Foto: Rachel Lovinger / Creative Commons / Flickr
Os pesquisadores destacam ainda que a caça ilegal e o comércio ilegal de animais selvagens estão entre os principais fatores que impulsionam a extinção da vida selvagem.
#AnimaisNãoSãoProdutos, muito menos lontras
Uma investigação realizada pela equipe da Proteção Animal Mundial, em 2019, revelou como o uso das lontras em cafés japoneses impulsionou a popularidade desses animais nas redes sociais e a busca por tê-los como bichos de estimação.
O que essas pessoas não sabem é que filhotes têm sido arrancados de suas mães na natureza para suprir a demanda desses cafés e do mercado de animais domésticos. Lontras são animais extremamente sociáveis, que vivem em grupos de até 20 indivíduos.
Exploradas nesses cafés do Japão, elas são mantidas em gaiolas, em ambientes com luz artificial, e apresentam comportamento e sinais de constante estresse.
“As mídias sociais ajudaram a popularizar a criação de animais selvagens como animais de estimação. Animais como lontras podem parecer fofos e carinhosos quando estão com suas famílias, mas não são gatos ou cachorros. Eles não pertencem a lares humanos longe de seus habitats nativos”, lembra Ethan Wolf, gerente da campanha “Vida Selvagem. Não Animais de Estimação” da organização.
Abaixo um mini-documentário produzido pela Proteção Animal Mundial sobre o assunto:
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Foto de abertura: Aaron Gekoski / divulgação Proteção Animal Mundial