PUBLICIDADE

‘Nature’ denuncia ataque de Trump à ciência e encoraja a comunidade científica global a (re)agir

'Nature' denuncia ataque de Trump à ciência e encoraja a comunidade científica global a (re)agir

“O presidente dos EUA, Donald Trump, está destruindo a ciência e as instituições internacionais. A comunidade global de pesquisa deve se posicionar contra esses ataques”. Este é um trecho do editorial publicado em 25/2 pela revista Nature – uma das mais conceituadas publicações científicas do mundo –, que resume sua indignação e preocupação com o “ataque sem precedentes à ciência, às instituições de pesquisa e às organizações e iniciativas internacionais vitais”, implementado por Trump desde sua posse.

O texto intitulado Trump 2.0: um ataque à ciência em qualquer lugar é um ataque à ciência em todo lugar foi divulgado após mais de um mês do envio de uma carta da revista à Trump, na qual pede que “seu governo desenvolva o legado e as conquistas da nação na ciência e impulsionem ainda mais a pesquisa em prol da prosperidade e da segurança”. 

Logo após a posse, o ‘novo líder’ assinou “pilhas de ordens executivas cancelando ou congelando dezenas de bilhões de dólares em financiamento para pesquisa e assistência internacional, e selando milhares de demissões”. Era só o começo.

A partir daí, a Nature relata as principais medidas decretadas pelo presidente norte-americano que terão (e já têm) consequências avassaladoras para o país e o mundo, tais como:

PUBLICIDADE

– proibição de estudos que mencionam palavras relacionadas a sexo e gênero, raça, deficiência e outras características protegidas; 
– corte e financiamento a agências federais e universidades; 
– cortes em gastos públicos que afetam instituições globalmente respeitadas, como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, a Agência de Proteção Ambiental e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH)
– demissões em massa; 
– suspensão de bolsas de pesquisa do NIH;
– corte no financiamento de iniciativas globais diretamente ligadas aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da ONU, que é um plano mundial para acabar com a pobreza e alcançar a sustentabilidade ambiental;
– corte no financiamento (que representa 1/5 do total) da Organização Mundial da Saúde (OMS);
– cancelamento do financiamento federal dos EUA para projetos internacionais de mudança climática;
– saída do acordo climático de Paris de 2015, o que atrasará os esforços para aumentar o financiamento para os países mais afetados pelo aquecimento global;
– “pausa” de 90 dias no financiamento da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), maior fonte de ajuda de um único país do mundo, incluindo assistência científica; e 
– cancelamento de políticas e iniciativas em diversidade, equidade e inclusão.

E ontem (27), Trump acrescentou mais uma medida desastrosa à lista: promoveu demissão em massa de cientistas da NOAA (istração Nacional Oceânica e Atmosférica), um dos principais institutos de pesquisa do clima do mundo, como contamos aqui.

Para a equipe da Nature, “é difícil colocar em palavras a extensão do dano causado ao empreendimento de pesquisa dos EUA, que é de valor quase incalculável tanto para a própria nação quanto para o mundo em geral”. 

A boa notícia é que organizações que representam comunidades científicas começam a reagir, mas a publicação destaca que “mais pessoas precisam se manifestar em apoio a seus colegas dos EUA para que não se sintam sozinhos”. Isso porque “um ataque à ciência e aos cientistas em qualquer lugar é um ataque à ciência e aos cientistas em todos os lugares”. Afinal, tudo está interligado e o mundo inteiro sofrerá com as decisões abomináveis de Trump. 

Há indivíduos e organizações contestando “ações do governo Trump nos tribunais, e pode ser que a Casa Branca seja forçada a moderar ou reverter algumas de suas decisões”. 

No entanto, é importante não vacilar porque seu desejo é “rebaixar, se não eliminar, evidências científicas independentes e conselhos de especialistas” e que “há também um desrespeito absoluto por acordos internacionais”. É também atacar os direitos das pessoas e a liberdade acadêmica, o que levará à interrupção – se não à reversão – de décadas de progresso na pesquisa científica

O que fazer?

Para a Nature, a prioridade é denunciar todas as ações truculentas do governo, “gritar sobre seus efeitos negativos”, apoiar pesquisadores e “defender sua capacidade de trabalhar e estudar sem medo por seus empregos”.

No entanto, chama a atenção para o fato de que quem trabalha em — ou mesmo lidera — agências federais pode sentir acuado para falar. Por isso, quem tem mais liberdade como “pesquisadores de outras organizações, como universidades, sociedades científicas, empresas, sindicatos e grupos de campanha” deve mostrar apoio aos colegas afetados pela destruição.

O mesmo posicionamento a Nature cobra das organizações científicas globais, também as que representam “jovens cientistas, academias científicas e pesquisadores em risco ao redor do mundo”. 

Destacando a missão da Nature – “servir cientistas por meio da publicação rápida de avanços significativos em qualquer ramo da ciência e fornecer um fórum para divulgação e discussão de notícias e questões relacionadas à ciência” -, a publicação lembra que, durante a maior parte de sua história (são 155 anos!), os Estados Unidos “têm sido líder global em pesquisa”. 

E conclui o artigo reafirmando sua denúncia ao ataque do governo Trump à ciência e encorajando “a comunidade global de pesquisa, onde quer que possam, a expressar sua oposição”.

Lancet e BMJ também protestam

Quinze dias antes da Nature se manifestar, as revistas The Lancet BMJ denunciaram Trump e suas ameaças à liberdade científica, que colocam em risco a saúde pública.

“Mais pessoas ficarão doentes e mais pessoas morrerão” destaca o editorial da revista britânica The Lancet — considerada a de maior prestígio do mundo na área das ciências médicas — ao descrever as prováveis consequências da política de Donald Trump sobre a ciência e a saúde nos Estados Unidos, em 8 de fevereiro, intitulado “Caos americano: em defesa da saúde e da medicina.

Kamran Abbasi (editor-chefe) e Jocalyn Clark (editora internacional) do BMJ – British Medical Journal, grupo responsável pela publicação de várias revistas científicas de renome na área médica, se posicionaram em defesa da ciência e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês), em artigo publicado em 4 de fevereiro: Editores de revistas médicas devem resistir à ordem do CDC e à ideologia antigênero.

Eles classificaram as medidas de Trump como “censura” e conclamaram pesquisadores e publicações científicas a não “se curvarem” a ela.

Leia a reportagem completa sobre as posições da The Lancet e do grupo BMJ no Jornal da USP

______

Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. e este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular

Foto (destaque): @Donald Trump/ Fotos Públicas

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
s embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor