Poucas horas após o final da votação no Brasil e a confirmação do resultado da apuração pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato eleito pela maioria dos brasileiros e agora novo presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, deu um longo discurso num hotel em São Paulo.
Em tom apaziguador e pacífico, Lula se dirigiu ao povo brasileiro como “meus amigos e minhas amigas” e começou falando sobre a vitória da democracia. Sobre a liberdade de escolhas e oportunidades que os brasileiros tanto desejam.
“O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar a sua vida. Ele quer participar ativamente das decisões do governo… O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, morar bem. Quer um bom emprego, um salário reajustado sempre acima da inflação, quer ter saúde e educação públicas de qualidade. Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter o a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma”, disse. “O povo brasileiro quer ter de volta a esperança”.
Ao lado de aliados políticos e da esposa, Janja, reforçou que governará para todos. Não apenas aqueles que votaram nele. Quer a união e não a discórdia.
“A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e de união. Esse povo não quer mais brigar. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído. É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas. Armas matam. E nós escolhemos a vida”, reforçou.
Sabe-se, entretanto, que o desafio não será fácil. O agora presidente eleito ganhou por uma margem pequena de votos. Pouco mais de 1%. A ideologia bolsonarista, com suas raízes fascitsas, conseguiu se impregnar em parte da sociedade brasileira. E a maioria dos parlamentares eleitores para o novo Congresso apoia Bolsonaro, ou seja, é a favor da pauta armamentistas, anti-indígenas e contra o meio ambiente.
Aliás, este foi um ponto de destaque no discurso de Lula na noite de domingo. Ele falou que o mundo sente falta do protagonismo do país nessa área. E ele pretende reocupar esse espaço lamentavelmente perdido.
“Hoje nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo”, falou. “O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a Floresta Amazônica“.
Lula, que terá um 3o mandato na presidência, algo inédito na história do país, ressaltou que em seu governo foi possível reduzir em 80% o desmatamento no bioma, que tinha atingido taxas altíssimas no ado, e que é preciso, uma vez mais, lutar pela redução das emissões de gases de efeito estufa.
“Vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da deterioração da vida na Terra. Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana. Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela. Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia, e combater toda e qualquer atividade ilegal – seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida“.
O presidente eleito reafirmou ainda seu compromisso com a promoção da proteção dos povos indígenas e do desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais e ribeirinhas. Destacou que o Brasil está aberto à cooperação científica internacional e aos investimentos de outros países para a conservação, mas sempre, sob a liderança do país.
Ao final do discurso, Lula fez questão de tirar fotos com a bandeira nacional, um momento muito aguardado por milhões de brasileiros, que querem mais uma vez, poder usar as cores do país com orgulho.
“É preciso reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo. Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros, e o orgulho que sempre tivemos do verde-amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde-amarelo e essa bandeira que não pertencem a ninguém, a não ser ao povo brasileiro”.
Foto de abertura: reprodução Instagram Lula